sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Hotéis "só para adultos" são opção para casais que procuram descanso

Marina Valle 
Do UOL, em São Paulo


Meu marido e eu iniciávamos o check-in para nossa estadia de sete noites em uma linda praia no México, quando o lobby do hotel começou a encher de gente. Algumas famílias chegavam em vans e entregavam em seguida suas malas enormes aos carregadores. As crianças corriam pelo lobby. Do nosso lado, uma garotinha e seu irmão armavam um berreiro, disputando um brinquedo e a atenção dos pais, que conversavam com uma funcionária da recepção. Minutos depois, um ônibus estacionou em frente ao hotel, de onde desembarcam umas trinta meninas, com camisetas de cor laranja que estampavam seus sobrenomes, o que sugeria que elas formavam um time. Só não soube de quê. A movimentação no lobby aumentava à medida que mais pessoas chegavam. De uma distância de aproximadamente 30 metros, já era possível ouvir a música alta vinda da piscina. Rolava uma gincana entre os hóspedes, liderada por monitores, além de partidas de volei aquático.

Pausa no check-in. Antes mesmo de nos instalarmos no hotel, já percebemos que tínhamos feito a escolha errada. Bem, o fato é que estávamos em lua-de-mel. Já que não conseguiríamos envolver nossa espreguiçadeira em uma bolha e o nosso único refúgio seria o quarto (nada mal numa lua-de-mel, mas vale também curtir seu hotel), perguntei se havia na mesma praia alguma opção com um clima mais tranquilo e privativo.

Um hotel voltado para casais, é isso? Na mosca! Por quê não pensei nisso antes, quando preparei nossa lua-de-mel? Por sorte, nos propuseram uma transferência para outro resort da mesma rede, com o rótulo “exclusivo para adultos”, que ficava logo à frente. Era só atravessar a rua.

Oito hotéis com o rótulo de "sem crianças"

Foto 6 de 8 - Nas colinas do vilarejo de Oia, em Santorini, na Grécia, o hotel Mystique (www.mystique.gr) tem somente 18 habitações. Conta com restaurante exclusivo e só aceita hóspedes com mais de 14 anos Divulgação

Foram sete deliciosos dias de sol, piscina e mar, com direito à um “playordomo” (em espanhol, mordomo de praia) que passava o dia todo com seu carrinho cheio de revistas, livros e com seu esborrifador de água, que nos refrescava do calor gostoso. Além disso, jantares à luz de vela, regados a vinho e boa comida, sem contar outros mimos como flores e chocolates na suíte favoreceram o clima de romance que toda lua-de-mel pede.

Hotéis como este, pensados para o romance, o descanso e o lazer “de adultos” estão em alta no exterior e no Brasil. Patrícia Servilha, consultora de marketing e desenvolvimento turístico da Chias Marketing, diz que essa tendência se dá porque o público está cada vez mais exigente. “As pessoas querem aproveitar ao máximo sua estadia num hotel, por isso escolhem com mais atenção”. Com a consolidação da internet como ferramenta de pesquisa, em que as informações estão sempre ao alcance, as pessoas estão dispostas a procurar pelas coisas que refletem o seu perfil. O turista, cada vez mais, exige serviços personalizados: há hotéis discretos para adultos; resorts repletos de atividades para famílias; cruzeiros voltados para o público GLS ou para fãs de sertanejo; viagens culturais, gastronômicas, de aventura e por aí vai. O mercado segmentou-se para atender a nichos diferentes.

No Brasil, grande parte dos hotéis voltados para adultos até aceitam crianças pequenas, porém não recomendam seus serviços e sua estrutura de lazer para elas. “Aceitamos a vinda de crianças, porém, não incentivamos - uma vez que o hotel prioriza descanso e relaxamento de seus hóspedes”, argumenta Taciana Rêgo, do departamento comercial do Kenoa Resort, na Barra de São Miguel, em Alagoas. No Kenoa, “a própria morfologia do terreno não favorece. Somos um resort ao mar aberto, sem qualquer estrutura voltada para as crianças”, explica.

Na ilha de Fernando de Noronha, que é o destino de sonho de muitos casais em lua-de-mel, as crianças pequenas não têm vez – pelo menos no Beijupirá Lodge e na Pousada Maravilha, que só hospedam crianças acima de doze e dez anos, respectivamente. A equipe da Pousada Maravilha explica que a arquitetura do estabelecimento foi pensada para adultos: escadas sem proteção, piscina funda com borda infinita, além de caminhos irregulares e de pedra, que ligam as dependências da pousada.

Implacável mesmo no quesito “no kids” é o Resort Pontal dos Ganchos, localizado em Governador Celso Ramos, Santa Catarina, que só recebe maiores de 18 anos. Não à toa: sua estrutura de vinte e cinco bangalôs com vista para o mar e ilha particular para jantares românticos foi talhado especialmente para receber casais que buscam por privacidade.

  • Divulgação
    O Galley Bay (www.galleybayresort.com), na ilha de Antigua, tem acesso fácil à praia de todos os quartos

Para pais e mães que sonham em se hospedar nessas ilhas de sossego, mas têm seus filhos pequenos sempre a tiracolo, a jornalista Bettina Monteiro, autora do blog Viagem com Crianças, sugere três saídas: despachar a criança para um acampamento e se mandar pro hotel; levar a babá junto para cuidar da criança; ou incluir a criança e adaptar as atividades para que a hospedagem seja divertida para elas também. “Criança bem-educada sabe que tem que pular na piscina longe dos outros. Criança bem-educada não grita em restaurante. Criança bem-educada não sai correndo no corredor do hotel às 11 da noite ou às 7 da matina”. Como mãe, Bettina acredita que existe um pouco de discriminação por parte de alguns hotéis que não aceitam crianças. “Você tem a mesma chance de pegar uma criança ou um adulto inconveniente em qualquer lugar. Não é uma questão de idade, mas de educação.”

A indústria dos cruzeiros também sentiu a necessidade de acomodar uma quantidade crescente de viajantes sem crianças. Apesar de todos serem bem-vindos, as companhias não recomendam alguns roteiros para os pequenos, já que nessas rotas as atividades são formuladas para adultos. Os cruzeiros “temáticos” foram criados para receber um público adulto específico. Difícil encontrar criancinhas num cruzeiro com Roberto Carlos, não é? Em rotas pelo Alaska ou pelo pólo sul, por exemplo, raramente se vêem crianças - exceto quando o Disney Cruise Line passa por lá. As temperaturas baixas já não são muito favoráveis. Além disso, os passeios radicais como remar entre os icebergs de bote, por exemplo, podem ser perigosos. É importante levar estes detalhes em consideração para saber quando incluir crianças em uma viagem ou não.

Os casais em lua-de-mel são os principais hóspedes dos hotéis “de adultos”. Mas vale lembrar que esse esquema também pode ser bom para pais e mães “exaustos”, que conseguem deixar seus filhos com parentes ou amigos. Ali, eles poderão dormir até tarde, beber taças “extra” de vinho sem preocupação e, principalmente, renovar a energia e recarregar as pilhas gastas com a correria da vida, do trabalho e dos filhos.


UOL Notícias

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