sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Chris Anderson: "A revolução da internet chegará à manufatura"


13 perguntas para Chris Anderson (Foto: reprodução)O inglês Chris Anderson, de 52 anos, não queria seguir a carreira dos pais, jornalistas. Tanto que se formou em física e foi trabalhar num laboratório. Mas a vocação da família foi mais forte. No fim dos anos 1980, tornou-se editor das revistas Science Nature. Anderson ainda trabalhou por sete anos na revista The Economist, antes de assumir o cargo de editor-chefe da Wired, em 2001. À frente da publicação, converteu-se numa das vozes mais respeitadas do mercado de tecnologia. Seu prestígio só cresceu ao publicar livros em que antecipava tendências. Sua estreia, A cauda longa (Campus/Elselvier), mostrava como a internet tornava viável criar produtos de sucesso para mercados de nicho. Em Grátis, ele vislumbrou um modelo econômico para a internet atual, em que empresas oferecem produtos de graça e cobram por itens extras. Agora, Anderson acredita que estamos diante de uma nova transformação. No livro Makers (Campus/Elselvier), argumenta que a mesma popularização trazida pela internet aos meios de informação e comunicação chegará à fabricação de produtos. Pela rede, diz o autor, é possível criar, aperfeiçoar, testar e vender bens físicos, algo antes restrito às grandes corporações. Anderson acredita tanto no que prega que deixou aWired para se dedicar a sua empresa, a 3D Robotics, que vende componentes eletrônicos para que qualquer um monte seu próprio robô em casa. Em entrevista exclusiva a ÉPOCA, Anderson explica por que resolveu investir no que chama de manufatura pessoal e faz outras apostas para o futuro.
1. ÉPOCA – Qual sua aposta de tecnologia para 2013?
Chris Anderson – A internet das coisas finalmente sairá do papel. A tecnologia dos smartphones, com chips baratos e poderosos, pode ser aplicada a qualquer objeto. Podemos ter dezenas de minitelefones a nosso redor. Tudo pode ser inteligente e conectado. O excitante é que não sabemos o que acontece a partir daí. Se você me perguntasse, em 1982, como seria o futuro dos computadores, nunca conseguiria imaginar que inventaríamos a internet e pessoas colaborando pela rede em comunidades on-line.

2. ÉPOCA – O que acontecerá com a manufatura em 2013?
Anderson – A revolução iniciada pela internet no mundo digital está chegando ao mundo físico, da manufatura, com as impressoras 3D. Pessoas com boas ideias têm acesso às ferramentas necessárias para tirar seus projetos do papel. A maioria ainda é de eletrônicos, porque o sucesso dos smart­phones barateou as peças usadas em sua fabricação. Mas também há novos produtos de design, porque os programas para criá-los ficaram fáceis de usar.

3. ÉPOCA – Qual será o impacto dessa revolução em 2013?
Anderson – A indústria da manufatura é cinco vezes maior que a indústria da informação. Portanto, isso gera oportunidades ainda maiores. Estamos falando de ferramentas poderosas nas mãos de gente comum. Elas se tornaram mais baratas e acessíveis. Não é a tecnologia que muda o mundo, mas a forma como as pessoas a empregam. Porque isso permite que surjam novas ideias dos mais diferentes lugares possíveis.

4. ÉPOCA – Há alguma transformação histórica semelhante à que veremos em 2013?
Anderson – Há a democratização do computador e da comunicação, com a internet. Agora, está acontecendo com a fabricação de objetos. Toda vez que você aplica a palavra “pessoal” a uma tecnologia industrial acontecem uma revolução e uma explosão de empreendedorismo.

5. ÉPOCA – Montar uma empresa que fabrica produtos não será mais difícil que criar uma empresa digital?
Anderson – Nunca foi tão fácil criar uma empresa de manufatura. A prototipagem ficou barata. Máquinas para isso não custam mais que um computador. Há programas de design grátis. Comunidades on-line ajudam a desenvolver seu produto de graça e a testar o mercado. Também é possível financiar seu projeto pela rede. Isso em escala global. Sou um exemplo. Três anos depois de me envolver com comunidades de robótica, largo o emprego para me dedicar a minha empresa.

6. ÉPOCA – Por que tomou essa decisão?
Anderson – Porque aquele meu pequeno experimento foi mais bem-sucedido do que sonhava. Queria ter uma experiência com essas máquinas criadas com a ajuda de pessoas na internet. Isso virou uma empresa com uma receita multimilionária. Temos 45 funcionários, duas fábricas e damos lucro.

"Não é a tecnologia que muda o mundo, mas a forma como as pessoas a usam. Isso faz com que surjam ideias de diferentes lugares"
7. ÉPOCA – Qual é o futuro do livro?
Anderson – Assim como com a música, a digitalização da indústria será boa para todo mundo, com exceção das empresas tradicionais. Claramente é um período de transição para as editoras. Para os leitores, nunca foi tão fácil ler e comprar livros. As pessoas ainda amam livros e os leem. E agora há mais escolhas. Pode-se ter um livro físico, que tira proveito de seu formato ao ser algo lindo e oferece uma experiência tátil. Mas as pessoas também podem ter livros digitais, que são mais baratos e interativos e podem ir com elas a qualquer lugar. Acredito que o futuro terá mais livros, e não menos.

8. ÉPOCA – O que será das editoras de jornais e revistas ou das TVs?
Anderson – A boa notícia é que estamos em 2013, e não em 2003 ou 1993. Não temos de inventar tecnologias. Elas já estão disponíveis para viabilizar novos modelos de negócios. Grandes empresas, como Google e Apple, estão criando plataformas para aparelhos móveis e se esforçando para fazê-las dar certo. Também não precisamos empurrar a mídia digital aos consumidores. Eles já mostraram que querem conteúdo em tablets e smartphones. Haverá uma transição do antigo para o novo, mas parece haver um lugar para a mídia tradicional no futuro.

9. ÉPOCA – Como os negócios tradicionais sobreviverão na era digital?
Anderson – A grande diferença entre o passado e o presente é a velocidade. Os novos concorrentes são mais rápidos que os antigos. Não há nada de errado com as grandes empresas. Mas elas tendem a ser lentas. Têm de se perguntar como fazer as coisas mais rápido. Quando você faz isso, as coisas automaticamente se tornam melhores mais rápido.

10. ÉPOCA – Como promover a inovação?
Anderson – É preciso criar condições favoráveis para que as coisas ocorram. Por isso, a inovação não acontece sozinha. Em geral, é preciso ter liderança. Grandes comunidades inovadoras normalmente têm grandes líderes. São pessoas que se deram ao trabalho de estabelecer objetivos e pensar em como atingi-los.

11. ÉPOCA – Em seus livros, o senhor antecipou tendências. Como enxerga os sinais de mudança?
Anderson – Isso acontece em parte porque estou no Vale do Silício, onde posso conhecer muita gente e onde há uma grande densidade de ideias surgindo a todo momento. Mas isso também se deve a meu trabalho na Wired. Na revista, precisamos ligar os pontos e antecipar tendências. Também ajuda o fato de eu ser um cientista treinado. Prefiro participar das coisas. Não escrevi um livro sobre a cauda longa porque alguém me falou sobre isso, mas porque peguei os dados e comecei a analisá-los.

NASCE UM FABRICANTE Em seu novo livro, Anderson diz que hoje qualquer um pode fabricar produtos. Ele acaba de deixar a revista Wired, que comandou por 11 anos, para se dedicar a sua empresa de robôs construídos em casa (Foto: Peter DaSilva/The New York Times)
12. ÉPOCA – Que conselho o senhor daria a quem deseja ser capaz de enxergar o que vem por aí?
Anderson – Apenas faça. Não há nada como fazer as coisas por conta própria. Só percebi que a manufatura pessoal seria importante quando chegou à minha porta um pacote enviado da China com um produto dentro que eu mesmo criara. Qualquer um pode fazer o mesmo. Quer saber como? Pegue um programa como o TinkerCad e crie algo. É como brincar com videogame. Depois coloque seu projeto num site, como o Shapeways, pague US$ 20 e espere a encomenda chegar em sua casa. Você terá experimentado todo o processo sem sair de casa. Também é importante estar atento a mais de uma área. Hoje, existem muitas transformações simultâneas em curso.


13. ÉPOCA – Diante de tantas mudanças simultâneas, não é cada vez mais difícil prever o futuro?
Anderson – Não acho que nosso futuro seja mais imprevisível que antes. Aliás, não é possível prever o futuro. É possível ver coisas interessantes no presente. Tenho sorte de viver num tempo em que posso ter contato com tantas pessoas e ideias inteligentes. É incrível que um garoto no México me ensine mais do que ensino a ele. É incrível poder falar com minha mulher quando estou no carro. Tudo isso parece meio mágico. Quando paramos para pensar em nossa vida atual, é fácil pensar que vivemos no melhor momento da história. E isso é verdade por qualquer métrica. Economicamente, socialmente, culturalmente, biologicamente. Acredito que os próximos anos serão ainda melhores. Em duas décadas, olharemos para trás e pensaremos que aquele é o melhor momento da história para viver.  

Revista Época

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